terça-feira, 21 de outubro de 2008

21/10/2008

Minguado gesticular
Abrigo de incerteza, permanece nos bastidores do palco.
Tua superfície projeta a normalidade que sei fina, película glacial.
Sou alheio no entanto.
A salvo ao perscrutar delicada camada,
Posso deslizar confiante.
A redenção turva suprime linhas, limites.
Durante um intervalo imensurável, há suspensão
A dimensão clássica dos movimentos,
Panejamento e escorço se revelam abruptamente
A solidez é enfim conquistada
E se afirma efêmera com toda sua densidade física.
Minutos além, esta carga sucumbe ao inconsciente;
E volto a ter acesso apenas à obviedade
De uma calçada cinza, um céu difuso.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

20/10/2008

A empena pintada de branco reflete a luz azulada de lâmpadas frias. De início, se apresentava como uma visão, tal como os momentos sucessivos ao despertar. Quando menos esperava, lá estava a dimensão atemporal; real e veemente, gritando sua esquiva aos nomes, aos recipientes. Contemplava a aridez dos tijolos e planos de concreto, todos uniformizados em cal. Os pontos afastados desta miragem; transeuntes, carros, o banco da praça, conservavam-se imersos na banal meia-luz de tom laranja.
O tato pode parecer tão distante: nunca terei minhas mãos a tocar aquelas paredes, nunca saberei se a textura dos tijolos guarda semelhança com os pórticos das catedrais. Os postes das avenidas nunca serão tocados pelos pés. O centro de quatro focos de luz, formando um “x”, poderia servir de apoio aos pés. Alguém prostrado nesta base, pareceria pequeno em demasia, mas seria capaz de vislumbrar uma perspectiva inédita dos prédios.
Então me conformo com o tato luminoso, responsável por tantos simulacros e suposições de verdades. Não saber o que de fato existe, mas ter claro o que a luz projeta em retina já é quase suficiente.