terça-feira, 6 de novembro de 2007

maneana

Tenho o olho bem aberto,
quando em frente à fosca janela.
De sujeira, do sêco das chuvas,
do toque oleoso.
A difusão matinal começa a coalhar
e logo, membranas mais gelatinosas
se acumularão ao redor.
Mas ainda é começo.
Tudo vago-entre-espaços
e cheiro de leite em boca.

domingo, 21 de outubro de 2007

domingo à noite

Este domingo-à-noite tem algo de decadente. As pessoas parecem flutuar por espaços mais ou menos habitados; luz fria e morta de bar. Paredes com azulejos amarelados, circundam seres de olhar distante. Vislumbram o fim de algo. Não é nada tão expressivo ou forte, tem o peso do que não pode ser dito em verbo, afirma-se em forma de presença como aquelas companhias pouco desejáveis que ficam nas beiras, vendo, olhando, prostram-se nas margens e povoam os cantos dos olhos.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

silêncio

Silêncio
Ouvidos repletos da não-presença
Áudio opaco e negro
No ínterim de extenso espaço
Algo minguante habita
Lua crescente
Tímpanos pulsam a procurar
Sons, ruídos, fluxos vibratórios
Registra ele próprio.
Autofagia pulsante.

domingo, 9 de setembro de 2007

primavera

pequenas ondas perfuram minhas pestanas
polpa ígnea, permeia o amarelo claro
e o vermelho e o verde.
o casulo irradia tempo velho
chega carcomido e seco n’aurora.
persistência retiniana, bálsamonocronus.
fujo de insistente data
em outrem, em outr(au)rora
nadar por entre barras metálicas
bóiam aos milhões
na superfície de um fosso d’água.
densa, muda.
suas extremidades não me furam
não possuem o som estridente,
tão próprio dos objetos metálicos.
a redoma torna-se assim:
incompleta.
maneana, sê-lo inteiro
co-dependo
contíguo