quarta-feira, 2 de setembro de 2009

01/09/2009

Na erma flor (dita)
cuja esfera - africana filigrana
composta de tardes veraneias
vejo incrustada em sua derme:
rubro cerne, enalteçam!
como me vês,
de plongeé?
ou contra-plongeé?
o fato é que não me importo.
Vago solto nas ruas, calçadas imundas
ofego contra luzes
contra o laranja das pedras portuguesas.
"que fazes tu, a andar afoito?"
"tento acompanhar o passo,
o ternário, o compasso
e a cama de se estirar o gozo".
Brandirei teus traços
à procura dos índices,
constituintes do magenta -
essa cor transfigurada de sangue em neve.
Também ignoro
a falta de realidade ou realeza
em tua estória, notória
terrena emancipação.

terça-feira, 9 de junho de 2009

10/06/2009

arritmiasmasperezacalantadorambarcalorosamarela

(arritmias)m(a)spe(reza)cal(e)nt(a)(dor)(a)m(barca)lo(rosa)m(a)r(ela)

(ar)rit(miasma)sp(e)rez(acalentadora)m(barca)loros(amarela)

(a)rritmiasm(aspereza)calent(adora)mb(a)r(calorosa)(mare)la

arritmi(asma)sperez(a)c(ala)nta(do)r(ambar)(calo)r(o)sa(mar)ela

segunda-feira, 8 de junho de 2009

07/06/2009

óbolo mnemônico
os ares de Espanha
cerceiam débil plano
que dantes carregava
coisas ocas como as caras
dos que não ousamos perturbar.

Dormêncianunciação
das horas amarelas
não delicadas, amarelas
- concentração de intervalos
entre colheradas,
poderiam assemelhar-se
à suco processado
de laranjas não cheiradas.

Caço o aroma.

Entre correntes abafadas
malogradas
vê-se Cáceres
alcalinaverborrágica
imantada pelos anseios
de ambular
pelo Paseo de Cánovas crepuscular.

domingo, 31 de maio de 2009

abril / 2009

borda os dias
não bordas comigo
na borda do dia
de borla no riso
desdobras os lírios.
O que é alvo, consigo.
Desfio o manto
dispo o santo
dos dias, do pranto.
Janto

quarta-feira, 4 de março de 2009

04/03/2009

Num lugar existem azulejos com motivos florais e paredes caiadas.
O sei, vi essas frações e interpreto as flores a partir de mera curva. Sei da alvura, da extensão em cal, pela luminância, o quintal.
O que não antevejo são as eclipses. O crescente e o minguante dentro do espaço. A lanterna-mágica de suas fases, esquivas-ofertas; invade o que há de livre, nutre o segundo plano (o mais amplo dos planos).
O rendado branco ali permanece; fiandeiras de arabescos, linhas que se entrelaçam e agora caem livremente em curva.
Permito-me um último gesto, um salto de fé. Em momentos de queda livre, só se possui a resistência do ar como abrigo. A fertilidade do pouso parece tão sólida; um vilarejo ideal para depositar este universo que carrego na esfera de pétalas adormecidas.
Mas a outra face da lua talvez exista; aquela para onde vou quando vejo que as projeções são apenas ecos de minha voz; autofagia dos sentidos.
Ignoro esta possibilidade por hora, por crer, e ver (n)os motivos florais, as paredes caiadas.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

12/02/2009

Vês a sincronia pluvial?
Duas esferas se precipitam,
uma no rio outra no mar.
As profundezas são incógnitas
e a água da chuva se mistura
com o sal marinho e a terra ribeira,
nublado limite entre distintas matérias.
E assim seguia o rio, e assim ondulava o mar;
de tempos em tempos alagando
suas margens; suas praias.
A nascente fluvial, ainda que distante,
se fazia presente no caudaloso movimento
– e os ecos da nascente eram a essência do rio;
suas verdades mais profundas.
O mar não tinha memória;
já apresentava as partículas do passado
amalgamadas em todas suas gotas;
passadas e presentes,
e intuía o futuro olhando para cima,
à espera da próxima torrente.
E assim seguia o rio, e assim ondulava o mar;
contentores de todos os tempos.
Numa das curvas do rio, o fluxo se assoma de afluentes.
Convergem para o leito principal
linhas encontram o ponto de fuga.
Qual será a finalidade de tanta água;
tantos caminhos se sobrepondo?
O mar também se adensa,
atraído pela lua em maré alta.
Suas ondas transformam o espelho hídrico de outrora
em topografia, paisagens líquidas se apresentam
nas ondulações suaves.
E assim seguia o rio, e assim ondulava o mar;
na fase cheia do ciclo.
De súbito, revela-se o motivo de tanto volume.
A foz se aproxima.
Com o rio se alargando em delta
e o mar se estreitando em resposta;
ambos questionam como será o gosto desta fusão
o ponto de encontro entre a fertilidade do rio
e a transparência do mar.
o acre se funde ao azul,
limites são testados em silêncio
e neste ponto me encontro,
de encontro a fenômeno sublime
entre o curso do rio e a ondulação do mar.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

25/01/2009

Costumava ir ao leito antes de ser acometido pelo sono e então se iniciava o processo. Lâmpada apagada, a luminária anteriormente deixava o quarto todo rajado pela refração da luz no vidro canaletado. Saudosa esfera, magma do cubo branco.
Fazia esforço agora para contagiar a escuridão com esta memória, das listras luminosas nas paredes. Em vão.
Depois de meia hora, tempo suficiente para que a saturação negra atingisse seu ápice, o apertar de olhos, o vincar de dobras no rosto, começavam a produzir halos. Indagava se a maior profundidade do nada tinha essas cores secretas - não de luz, não de tinta, mas de pressão: uma pressão cromática no fundo de um nada.
Seu corpo envolto pelos tecidos transparentes mantinha-se estático agora que a transparência era maciez. “Ignore isso” pensava enquanto produzia redemoinhos nos lençóis, espirais de pano se proliferavam, auxiliares dos sonhos.
Uma pequena fuga surgia.
Seria possível desenhar a cartografia das janelas? A vista do seu quarto já bastava – o enquadramento dos batentes brancos detinha um bric-à-brac de janelas, lado a lado. Conhecia bem a segunda da esquerda do prédio bege. Morada de um homem e uma mulher que andavam pelo apartamento, sumiam e ressurgiam tão compenetrados em sua vida conjugal.
A janela da torre do hospital era um pequeno purgatório. Seu pai dissera ser uma sala de raio-X, daí a luz diferente que esta unidade emanava todas as noites.
O cume do arco gótico apontava para o próximo olho-mágico. Este, revelava uma escada desembocando num corredor branco; era a janela da espera. Alguns minutos tinham que passar antes que aparecesse um pequeno grupo de pessoas em volta de uma maca. E estas existências se resumiam apenas a tais instantes pois davam lugar à alva parede.
O que mais incomodava o garoto não eram essas ocorrências singulares, mas a sincronia tão improvável deste vasto grupo de ações desconexas: abrir a geladeira enquanto um corredor permanece inabitado e um homem é varrido por raios invisíveis e um garoto insone testemunha este mapa numa noite de 1991.